quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O poder do Agora

TRECHOS do livro de Eckhart Tolle que ilustram coisas que eu escrevi no meu relato pós-oficina:


Num certo sentido, o estado de presença poderia ser comparado à espera. Não se trata do costumeiro tipo de espera, tediosa ou agitada, que é uma negação do presente. Não é uma espera na qual a atenção fica focalizada em algum ponto do futuro e o presente é percebido como um obstáculo indesejável, que nos impede de alcançar o que desejamos. Existe um tipo de espera que requer uma prontidão total. Alguma coisa pode acontecer a qualquer momento e, se não estivermos absolutamente acordados e calmos, vamos perdê-la. Nesse estado, toda a nossa atenção está no Agora. Não há nenhum espaço para fantasias, pensamentos, lembranças, antecipações. Não há tensão, nem medo, apenas uma presença alerta. Estamos presentes com o nosso ser, com cada célula do corpo. Nesse estado, o 'você' que tem um passado e um futuro, em outras palavras a personalidade, dificilmente está ali. E, mesmo assim, não se perdeu nada de valor. Você ainda é essencialmente você. Na verdade, você é muito mais inteiramente você do que jamais terá sido, ou melhor, somente agora você é verdadeiramente você.

Existe algo sob a beleza das formas externas. Algo que não pode ser nomeado, que é inefável, uma essência profunda, interna e sagrada. Onde quer que exista a beleza, essa essência interior brilhará de alguma forma. Ela só se revela quando estamos presentes. Será possível que essa essência sem nome e a sua presença sejam coisas idênticas e uma coisa só? Será que a essência estaria lá sem a sua presença? Vá fundo nisso. Descubra por si mesmo.

Mas não se apegue às palavras e não se esforce para entendê-las. Não há nada que você precise entender antes de conseguir se tornar presente.

Todas as coisas têm um Ser, têm uma essência divina, têm algum grau de consciência. Até mesmo uma pedra tem uma consciência rudimentar, do contrário não existiria e seus átomos e moléculas se dispersariam. Tudo está vivo. O sol, a terra, as plantas, os animais, as pessoas, todos são expressões da consciência em níveis variados, a consciência se manifestando como forma.

Se um peixe nasce no seu aquário e você lhe dá o nome de John, escreve uma certidão de nascimento, conta-lhe a história da família dele e, dois minutos depois, o vê sendo engolido por um outro peixe, isso é trágico. Mas só é trágico porque você projetou um eu interior separado onde não havia nenhum. Você se apoderou de uma fração de um processo dinâmico, uma dança molecular, e fez dela uma entidade separada.

Acoplamentos com elásticos

Minha namorada, Juliana Brizola (a NINJA ali, ao lado da VIKING Helga), participou da oficina da Carla Borba na Pré-Bienal:





(Aliás, ela vai me representar na sexta-feira, já que eu vou estar trabalhando das 14h às 17h e já que ela não participou da nossa turma de 20 horas.)

O site propõe uma nevagação pelo universo de Lygia Clark em sua fase mais concreta

http://www.espacoperceptivo.net/

interessante

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Vídeos da oficina






(PS a partir de agora é o João postando...dentro do post do Douglas...ahhh privilégios de administrador do blogue uhauhauhauh)

ao ver os videos me lembrei de um ícone da minha infância.

Planeta, a Terra; cidade Tóquio.
Como todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se
acha hoje em desvantagem na sua luta contra o
maior dos inimigos do Homem, a Poluição. E
apesar dos esforços de todo o mundo, pode
acontecer o dia em que a terra, o ar e as águas
tornem-se letais para toda e qualquer forma de vida.

Aqui estão algumas imagens de mais um trabalho híbrido... pra mim, a discussão desse conceito deu MUITO o q falar e pensar. E ainda tenho as imagens da 1ª performance da oficina, a mais caótica, da terça-feira, pra editar e lançar no espaço comum... Me aguardem!!!!

Siga o link para o YouTube:
CONTRATO
http://www.youtube.com/watch?v=TwoIKXt5-mw

SOBRE A IMPOSSIBILIDADE DE ENSINAR


e a INEVITABILIDADE DO APRENDER
=D


CLIQUE AQUI CLIQUE ME CLIQUE ME CLIQUE ME!!!!



esse artigo científico utiliza-se dos CONCEITOS MAturaneanos e Vareleanos hehehe, para distinguir conhecer, conhecimento, aprendizado e ensino.
as vezes fica super ultra confuso, mas vamos lembrar do velho guerreiro
Eu vim para confundir e não para explicar
auhauhuha


Classificação: Artigo Científico. Como citar este artigo: Andrade, L. A. B. e Silva, E. P. da (2005). O conhecer e o conhecimento: comentários sobre o viver e o tempo. Ciências & Cognição; Ano 02, Vol 04, mar/2005. Disponível em www.cienciasecognicao.org

Ciências & Cognição 2005; Vol 04: 35-41 <> © Ciências & Cognição - Submetido em 25 de Fevereiro de 2005| Aceito em 26 de Março de 2005 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de Março de 2005

domingo, 27 de setembro de 2009

Processos Híbridos de Criação Fotos - 7 Bienal do Mercosul


Fotos da assessoria de imprensa da bienal

fotos da Helga e da Eliane tiradas no olho da ação
Acorda, eis o mistério ao pé de ti!
E assim pensando riu amargamente,
Dentro em mim riu como se chorasse!

Fernando Pessoa

sábado, 26 de setembro de 2009

Quartett

La mort d'une putain. Au present nous sommes seul. Cancer mon amour

cena final:
Mdamme esta deitada no chao, a direita alta do palco, horizontalmente alinhada com a boca de cena. Este alinahmento dialoga com um faixo de luz azul no fundo do palco no ciclorama, que aos poucos vai se abrindo e tornando-se branco, um aquario com dois peixes negros e solitarios cruza lentamente o palco. ea levanta-se agora o faixod e luz ja se abriu no ciclorama doto branco vemos ela de pe dirigindo-se a luz segurando um sapato de salto.

a morte de uma puta, agora estamos sós. câncer, meu amor. repete...repete...repete....repete...repete... some no branco

SKATE HÍBRIDO

O encontro de ontem

Só estivemos os dois DDs (Douglas Dickel e Dani D'Emilia) & o DDA (João). Fomos para casa às 3h :P

Sonho

Não sei como foi o encontro de ontem. Devido a montagem da Exposição "Uma Visão Miranda para Carmem", tive que ficar em Montenegro. Mas sonhei com vocês. Estavam os VERONETES dançando para minha visinha segurando uma faixa que falava coisas sem noção (comum né!)... O Douglas era o que mais se requebrava para minha visinha... uma mistura de funck com samba, uma loucura... hehehhe... Eu filmava vocês na "dancinha da visinha". Logo após ela nos convidou a tomar um café. O João pegou o açucareiro, introduzio duas colheres, lambeu o dedo, colocou no açucar e desenhou um sorriso , craindo um monstrinho, onde o rosto era o açucareiro (base) com guampas de colheres e sorriso com lambuzado com a baba do João. Em seguida estavamos numa igreja verde que tem em Poa, na Cavalhada, próximo à Otto... mas isso ainda não lembro, vou dar uma volta e pensar um pouco mais... Saudades de todos vocês.

Bicho & criança

"O primeiro livro de Zaratustra começa por narrar as três metamorfoses: 'Como o espírito se torna camelo, como o camelo se torna leão e como finalmente o leão se torna criança.' O camelo é o animal que transporta: transporta o peso dos valores estabelecidos, os fardos da educação, da moral e da cultura. Transporta para o deserto e, aí, transforma-se em leão: o leão parte as estátuas, calca os fardos, dirige a crítica a todos os valores estabelecidos. Por fim, pertence ao leão tornar-se criança, quer dizer, jogo e novo começo, criador de novos valores e de novos princípios de avaliação." (DELEUZE, Gilles. Nietzsche. 1965.)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Também tenho uma foto nesse corredor

Porto Alegre é demais


Frases do crítico Renato Mendonça, da Zero Hora.


"É impossível tentar descrever Quartett de maneira tradicional, isolando os elementos da encenação. A principal característica de Wilson é justamente a de que ele não distingue luz, gesto, som, intenção, cenografia - ao contrário, descobre suas complementariedades e as integra."

"Cada encenação de Wilson se assemelha a um organismo original, à qual os espectadores têm acesso às vísceras e intenções."

"Desse descarnamento do que é supérfluo surgem cenas fragmentadas, como se a realidade tivesse a dinâmica da memória e do sonho, que aproveitam o que é real para atribuir significados que são sonegados pela consciência vigilante."

"A insistência da Marquesa em repetir uma frase, por exemplo, não é gratuita: pode ser a urgência de sua vida, mas pode ser também a insistência do encenador em marcar um ritmo para a cena."

"Essa mania de puxar o tapete porém tem o efeito colateral de afastar o espectador, ao menos no campo emocional. Ao final de Quartett, o contentamento do público que lotou o Teatro do Sesi podia ser creditado muito mais à fruição estética e à descoberta de uma maneira original de se fazer teatro, em que atores, cenário, luz e som são um quarteto indissolúvel. Mas seria difícil identificar alguém que tivesse se comprometido emocionalmente com Quartett."


Foto: Ângela Alegria

Já está acontecendo


"Por mais que (um)a arte (contemporânea) não seja compreendida, pelo menos é categorizada como algo a que se costuma, na sociedade, dar-se alguma importância"

Faço de tuas palavras as minhas e não, não teve cara feia dos motoristas.

Respondendo ao questionamento não 'control-cê-dado' do Douglas, sobre a decida do Everest.

...

Eu cheguei um dia depois, bem no clima de hibridismo, afinal no dia anterior havia entrado numa oficina errada e permaneci pra ver o que ia dar.
Por alguns momentos eu senti falta de não saber o nome das pessoas ou o que faziam, fato que se tornou irrelevante a medida que o nosso propósito se afinava e vibrávamos na mesma energia.

No dia em que a maioria foi empacotada eu fiquei de fora e algumas coisas foram PESCADAS. Aguardávamos o elevador, Dudu, Angela e eu. Quando ele chegou, tinha um rapaz dentro. Quando o elevador começou a descer ele apertou todos os andares e desceu no 4º.
Em seguida, Angela e eu "batateamos" entre ficar no 4º andar ou descer, o que fez Dudu comentar que conseguiamos ser mais lentos que os monstros, apesar de enxergar e ter toda a mobilidade a nossa disposição.
...

E teve o desaniversário, e os desejos de todos, e os desenhos, e as pessoas, e os creminhos, e os incensos, e a meditação, e os balões, e as fitas e o ninho, e os que sumiram (porque algumas pessoas sumiram, né?!), e os que ficaram, e os nossos muitos pés, e as nossas réplicas de pés, pernas e costelas, e os muitos cegos e teve a sexta que já começou decrescente, mas não menos interessante.

Finais de processo.
Que sei lá se realmente findam, processo é continuo, né?
né?
ou né?
..
.
finalizo entonces, com uma sugestão de site com diversuras urbanas que lembram
Muito
os
nossos
acomplamentos

http://www.blublu.org

SiR

Que presente ver Quartet duas vz do Bob Wilson

Sometimes you say to yourself, what should I do next? And people advise you or you decide yourself what to do next. And quite often, you try to think of what is the right thing to do. But, quite often, you should think what is the wrong thing to do. And then do that.
Robert (Bob) Wilson

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Hoje eu é que não faço desaniversário

Charles Lutwidge Dodgson, um professor de matemática da universidade de Oxford, na Inglaterra, tinha vários talentos. Era um especialista em lógica e fotógrafo pioneiro. Viveu entre 1832 e 1898 no norte da Inglaterra. Mas entrou para a história como escritor, cujo pseudônimo ficou famoso: Lewis Carroll. Ele escreveu "Alice no país das maravilhas".

Alice: Sim, sim, que bondade a sua. Sinto interromper seu chá de aniversário. Obrigada.
Lebre: Aniversário? Há, há! Não é chá de aniversário.
Chapeleiro: Claro que não! É chá de desaniversário.
Alice: Desaniversário? Não entendo.
Lebre: Só há um dia no ano em que você comemora seu aniversário.
Chapeleiro: Portanto, os outros 364 dias são desaniversários.
Alice: Então, hoje é meu desaniversário!
Lebre: Oh, que coincidência! E voltam a cantar...

(Fonte: Luciano Pires)

Remetendo a memórias sensoriais recentes



Foto de Maciel Goelzer. Performance art espontânea no Museu Iberê Camargo.

Albinho

Álbum atualizado com as fotos que estavam na câmera da Sissi.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Stelarc - The Body is Obsolete


para assistir a reportagem completa clique aqui
Site do Tiozão FURIOUUUSO

As performances idiossincráticas de Stelarc freqüentemente envolvem robótica ou outras tecnologias relativamente modernas integradas de algum modo com seu corpo. Em 25 diferentes performances, ele fez suspender-se através de ganchos, freqüentemente com uma de suas invenções robóticas integrada. Em outra performance, permitiu que seu corpo fosse controlado remotamente por estimuladores eletrônicos de músculos conectados à internet. Ele também já se apresentou com uma terceira mão robótica, um terceiro braço robótico, e dentro de uma máquina de andar pneumática semelhante a uma aranha com seis pernas, controlada através de gestos dos braços.

Suas obras têm sido saudadas por sua capacidade de envolver uma ampla audiência, sendo o melhor exemplo disto a concordância para que internautas se conectassem na exibição e passassem a controlar os eletrodos aos quais seu corpo suspenso estava conectado.

[editar] Orelha no braço

Em 2007 Stelios Arcadiou causou polêmica ao cultivar uma prótese de orelha humana através de cultura celular e depois implanta-la em seu braço esquerdo com uma cirurgia.[1] Ele foi o primeiro e único homem a utilizar esta técnica.[2]

fonte WIKIIIII

Orlan


Auto Hibridação

Black Mountain College

ABC do Dadaísmo!



MArina Abramovic - Autobiógrafa - Performance- Video

Clique AQUI
para ver um belo video de MArina Abramovic

fonte
UBUWEB

Trecho do Canto Quarto dos Cantos de Maldoror, de Lautréamont

"Estou sujo. Os piolhos me roem. Os porcos, quando me olham, vomitam. As crostas e as pústulas da lepra escamaram minha pele, coberta de pus amarelado. Não conheço a água dos rios, nem o orvalho das nuvens. Sobre minha nuca, como sobre um monte de esterco, cresce um enorme cogumelo, com seus pedúnculos umbelíferos. Sentado em um móvel informe, não movo meus membros há quatro séculos. Meus pés assentaram raízes no solo, e compõem, até meu ventre, uma espécie de vegetação vivaz, cheia de ignóbeis parasitas, que ainda não deriva da planta, e que já não é mais carne. Contudo, meu coração bate. Mas como poderia ele bater, se a podridão e as exalações do meu cadáver (não ouso dizer corpo) não o nutrissem abundantemente? Debaixo da minha axila esquerda, uma família de sapos fixou residência, e quando um deles se mexe, me faz cócegas. Cuidado para que não escape um, e não venha escavar, com sua boca, o interior de vossa orelha; seria capaz, em seguida, de penetrar em vosso cérebro. Debaixo de minha axila direita há um camaleão, que lhes move uma perpétua caçada, para não morrer de fome; é preciso que todos vivam. Mas, quando uma das partes desmancha completamente as artimanhas do outro, não encontram nada melhor para fazer, sem incomodar-se, que sugar a gordura delicada que recobre minhas costas: já me acostumei. Uma víbora malvada devorou minha vara, e tomou seu lugar; tornou-me eunuco, essa infame. Ó! se eu houvesse sido capaz de me defender com meus braços paralisados; mas creio que esses se transformaram em achas de lenha. Seja como for, importa constatar que o sangue não vem mais passear aí seu rubor. Dois pequenos ouriços, que não crescem mais, jogaram a um cão, que não os recusou, o interior os meus testículos; a epiderme, cuidadosamente lavada, lhes serve de ninho. O ânus foi interceptado por um caranguejo; encorajado por minha inércia, toma conta da entrada com suas pinças, e me dói muito! Duas medusas atravessaram os mares, imediatamente atraídas por uma esperança que não foi traída. Olharam com atenção as duas partes carnudas que formam o traseiro humano, e, grudando-se a seu contorno convexo, esmagaram-na a tal ponto por uma pressão constante, que os dois pedaços de carne desapareceram, enquanto permanecem dois monstros saídos do reino da viscosidade, iguais nas cores, na forma e na ferocidade. Não falai da minha coluna vertebral, pois esta é uma espada."

terça-feira, 22 de setembro de 2009

As duas únicas linhas de resistência



"Não há globalização sem virtualização. O teatro e a dança têm necessidade de apresentar o corpo. Então são as artes do corpo por excelência. É preciso preservá-las; se as deixarmos desaparecer na virtualização, se não preservarmos os corpos de atores e dançarinos, provaremos que as novas tecnologias são exterminadoras dos corpos, não apenas através do desemprego, da miséria, mas também da referência à corporalidade, isto é, à própria teatralidade." (Paul Virilio)

Cartas do nosso baralho pessoal


MONSTROS

DESANIVERSÁRIO

VERONETES

JAM

RODA DE CONVERSA

PESCADOR

ACOPLAMENTOS
Aqui tem outro Link interessante sobre autopoiese e acoplamentos estruturais

O acoplamento estrutural
Maturana e Varela observam que o sistema vivo e o meio em que ele vive se modificam de forma congruente. Na sua comparação, o pé está sempre se ajustando ao sapato e vice-versa. É uma boa maneira de dizer que o meio produz mudanças na estrutura dos sistemas, que por sua vez agem sobre ele, alterando-o, numa relação circular. A esse fenômeno, eles deram o nome de acoplamento estrutural. Quando um organismo influencia outro, este replica influindo sobre o primeiro. Ou seja, desenvolve uma conduta compensatória. O primeiro organismo, por sua vez, dá a tréplica, voltando a influenciar o segundo, que por seu turno retruca — e assim por diante, enquanto os dois continuarem em acoplamento.

Mesmo sabendo que cada sistema vivo é determinado a partir de sua estrutura interna, é importante entender que quando um sistema está em acoplamento com outro, num dado momento dessa inter-relação a conduta de um é sempre fonte de respostas compensatórias por parte do outro. Trata-se, pois, de eventos transacionais e recorrentes. Sempre que um sistema influencia outro, este passa por uma mudança de estrutura, por uma deformação. Ao replicar, o influenciado dá ao primeiro uma interpretação de como percebeu essa deformação. Estabelece-se portanto um diálogo. Por outras palavras, forma-se um contexto consensual, no qual os organismos acoplados interagem. Esse interagir é um domínio lingüístico.

Posto de outra forma, nesse âmbito transacional o comportamento de cada organismo corresponde a uma descrição do comportamento do outro: cada um "conta" ao outro como recebeu e interpretou a sua ação. É por isso que se pode dizer que não há competição entre os sistemas naturais. O que existe é cooperação. No entanto, quando à natureza se junta a cultura — como no caso dos seres humanos —, as coisas mudam.

Reafirmo que não existe competição (no sentido predatório do termo) entre os seres vivos não-humanos. Quando o homem chama determinados animais de predadores está antropomorfizando-os, ou seja, projetando neles uma condição que lhe é peculiar. Como não competem entre si, os sistema vivos não-humanos não "ditam" uns aos outros normas de conduta. Mantidas as condições naturais, entre eles não há comandos autoritários nem obediência irrestrita. Os seres vivos são sistemas autônomos, que determinam o seu comportamento a partir de seus próprios referenciais, isto é, a partir de como interpretam as influências que recebem do meio. Se tal não acontecesse, seriam sistemas sujeitados, obedientes a determinações vindas de fora.

No caso das sociedades humanas, em que as condições não são apenas as da natureza, é isso que o marketing e outros meios de condicionamento de massa tentam (e em boa parte dos casos conseguem) fazer com populações inteiras. É, portanto, possível a produção em grande escala de indivíduos sujeitados, embora para isso os estímulos condicionadores precisem ser amplos e ininterruptos.

É o que o psicanalista Félix Guattari chama de produção de subjetividade. Com essa noção ele introduz a idéia de uma subjetividade industrial, fabricada, moldada pelo capitalismo. Trata-se da introdução de gigantescos sistemas de formatação e condicionamento, por meio dos quais o capital (hoje em sua fase de triunfalismo) constrói e mantém o seu imenso mercado de poder. É disso mesmo que se trata: transformar em sujeitado um sujeito natural. Ou seja, implantar e levar adiante a violência sobre a característica mais básica dos sistemas vivos — a autopoiese.

A noção de que os sistemas são determinados por sua estrutura é de fundamental importância para muitas áreas da atividade humana. Na psicoterapia, por exemplo, a transferência e a contratransferência podem ser tomadas como manifestações de acoplamento estrutural, no qual as modificações experimentadas pelo cliente são determinadas por sua estrutura. Não podem, portanto, ser vistas como causadas ou produzidas pelo terapeuta. Por isso, é importante ter sempre em mente que o domínio consensual resultante do acoplamento de sistemas autopoiéticos é um contexto lingüístico — mas não no sentido de mera transmissão de informações de parte a parte.
Fonte:CLIQUE AQUI para o texto todo

AUTOPOIESE, CULTURA E SOCIEDADE

Humberto Mariotti *

Pré - Bienal - Processos Híbridos de Criação

Queridos
é com prazer que eu divulgo a pré-bienal e os convido para participarem de dois encontros EXTRA - Ordinários com a continuidade do projeto PROCESSOS HÍBRIDOS DE CRIAÇÃO
Estarei em duas oportunidades propondo vivências teórico-práticas sobre processos de criação HIBRIDIZADOS
Apareçam MUCHACHOS
=D

Pré-Bienal: Índices e Anotações


Entre os dias 15 de setembro e 04 de outubro, a Fundação Bienal do Mercosul e o Santander Cultural apresentam os bastidores criativos e as ideias que farão parte da 7ª Bienal do Mercosul. Serão três semanas em que as mostras e programas da Bienal inspiram a programação de filmes, shows, oficinas, debates e palestras. Diferentes personalidades do meio artístico, cultural e intelectual estarão no mesmo palco refletindo sobre o processo criativo dos artistas e sua relação com diversas áreas do conhecimento.

No Grande Hall do Santander Cultural ocorre diariamente o karaokê poético Para Ver em Voz Alta, projeto concebido pela artista e curadora Lenora de Barros. Trata-se de um micro-estúdio de gravação de áudio, no qual o público pode gravar leituras e performances vocais a partir de poemas visuais pré-selecionados, de artistas e poetas como Man Ray, Yoko Ono, Augusto de Campos entre outros. O resultado dessa “colheita sonora” será selecionado e exibido durante a programação da Radiovisual, que inicia oficialmente em outubro, com transmissão diária pela Rádio FM Cultura.


Atividades Pedagógicas*

Ao todo serão 18 atividades voltadas para professores, artistas, estudantes e pessoas interessadas em arte contemporânea: sete oficinas relacionadas às Fichas Práticas - material pedagógico criado especialmente para a 7ª Bienal do Mercosul, oito sobre o Projeto Mapas Práticos e três com artistas participantes do Programa de Residências Artistas em Disponibilidade.

Os workshops sobre as Fichas Práticas são voltados para professores e tem como objetivo discutir a natureza das obras apresentadas nesta edição. Através de seis fichas com imagens sobre trabalhos expostos na 7ª Bienal, de contexto e referência histórica, os oficineiros Estevão Haeser e Jorge Bucksdricker pretendem incentivar os participantes a refletir sobre conceitos e relacionar a arte contemporânea com temas do cotidiano.

As oficinas do Projeto Mapas Práticos, ministradas pelos artistas João de Ricardo, Marina Camargo, Telma Scherer e Carla Borba, dirigem-se a público e temas diversos que variam entre poesia e processo criativo. O projeto “Mapas Práticos – espaços em disponibilidade” é um mapeamento de 26 ateliês privados (individuais ou coletivos), institucionais e públicos de Porto Alegre que possuem propostas educativas no campo das práticas artísticas contemporâneas. Estes ateliês vão abrir suas portas durante o período da Bienal para receber grupos e realizar oficinas gratuitas. Entre eles, estão os artistas que vão ministrar as oficinas na Pré-Bienal.

Oficinas ministradas por artistas que participam do Programa de Residências da 7ª Bienal do Mercosul acontecem nas duas últimas semanas da mostra. Nas oficinas com os artistas Diego Melero, Nicolás Paris e Rosario Bléfari, o público experimenta e conhece os projetos que estão sendo desenvolvidos para a Bienal. O Programa de Residências Artistas em Disponibilidade leva 14 artistas a nove regiões do estado do Rio Grande do Sul. Cada artista trabalha suas próprias metodologias educativas nas comunidades escolhidas, com o objetivo de inserir esses projetos artísticos no sistema educativo e incentivar a interdisciplinaridade entre práticas artísticas e não-artísticas.

As vagas para todas as atividades pedagógicas são limitadas e devem ser feitas através do telefone 3254 7500, a partir do dia 8 de setembro.

Pré-Bienal: Índices e Anotações
Filmes, debates, palestras, oficinas educativas, shows e performances

De 15 de setembro a 04 de outubro
Terça a sexta, das 10h às 19h
Sábado, domingo e feriados, das 11h às 19h

Santander Cultural – Rua Sete de Setembro, 1028 – Centro
Porto Alegre – RS – Brasil

Entrada franca para exibições no Grande Hall, palestras, oficinas, encontros (shows e parte da programação do Cine Santander Cultural a preços populares)
Inscrições para atividades pedagógicas através do telefone 51 3254 7500


Programação:

15/set (terça)
7ª Bienal - Curadoria-geral - Relações e Escalas
A partir das 11h - 901 e Power of Ten, filmes de Charles & Ray Eames - arquitetos e designers 18h – Conversa com Victoria Noorthoorn e Camilo Yáñez - curadores-gerais da 7ª Bienal do Mercosul
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas práticas da exposição Desenho das Ideias, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo


16/set (quarta)
7ª Bienal - Relações com a antropologia e a sociologia
A partir das 11h: Mas Allá de Estos Muros, documentário de Juan Ignacio Sabatini, sobre Juan Downey - artista das mostras Biografias Coletivas e Desenho das Ideias
18h – Conversa com Camilo Yáñez - curador-geral e da mostra Biografias Coletivas, Olavo Marques - antropólogo e professor da UCS, e José Otávio Catafesto de Souza - antropólogo e professor da UFRGS
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas práticas da exposição Biografias Coletivas, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo


17/set (quinta)
7ª Bienal - Trabalho Coletivo
A partir das 11h – The Bolivariam Dream, filme de Hoffman´s House, coletivo integrante da mostra Biografias Coletivas
18h – Conversa com Carlos Cabezas - artista integrante do coletivo Hoffmann's House e Pablo Rivera - artista das mostras Biografias Coletivas e Texto Público
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina sobre Processo criativo, com Marina Camargo - artista da mostra Projetáveis


18/set (sexta)
7ª Bienal - Escalas e Identidade
A partir das 11h - O Zero Não é o Vazio, documentário de Marcelo Masagão
18h – Conversa com Marina De Caro - curadora pedagógica da 7ª Bienal do Mercosul, Luis Augusto Fischer - escritor e professor da UFRGS e Fernando Mattos - músico, compositor e professor da UFRGS
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina sobre Processo criativo, com Marina Camargo - artista da mostra Projetáveis


19/set (sábado)
7ª Bienal - Transmissão e Irradiação
A partir das 11h – Crude e Música para Folha de Papel, filmes de Guilherme Vaz, artista das mostras Desenhos das Idéias, Texto Público e da Radiovisual
18h – Conversa com Sergio Kafejian – músico e Arthur de Faria - músico e jornalista
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas práticas da exposição Texto Público e da Radiovisual, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo


20/set (domingo)
7ª Bienal - Transmissão e Irradiação
A partir das 11h – Ouvindo Imagens, filme de Michel Favre 17h - Show / Performance: Arnaldo Antunes - músico, poeta e artista visual e Marcia Xavier - artista plástica
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina de Poesia e Performance, com Telma Scherer - poeta e performer


22/set (terça)
7ª Bienal - Palavra e Visualidade
A partir das 11h - Poesia Concreta e Projeto Verbivocovisual, filmes de Walter Silveira
18h – Conversa com João Bandeira – poeta e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina EX-tensões do corpo, com Carla Borba - artista


23/set (quarta)
7ª Bienal - Relações com a antropologia e a sociologia
A partir das 11h - Seleção de documentários do Núcleo de Antropologia da UFRGS
18h - Mariela Scafati - artista da mostra A Árvore Magnética e Cornélia Eckert - antropóloga e professora da UFRGS
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas pedagógicas da exposição A Árvore Magnética, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo


24/set (quinta)
7ª Bienal - Memória e Comportamento
A partir das 11h – Amnésia, filme de Christopher Nolan
18h – Conversa com Jorge Furtado – cineasta e Zelig Libermann - médico psiquiatra
*14h às 17h - Programa de Artistas em Residência - Laboratório de Desenhos, com Nicolás Paris - pedagogo e artista do Programa de Residências


25/set (sexta)
7ª Bienal - Sistemas e Suportes
A partir das 11h - Cómo Encontrar El Arbol Magnetico?, filme de Mario Navarro, curador da mostra Árvore Magnética
18h – Conversa com Bernardo Ortiz - curador editorial
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina de Performance, com João de Ricardo – performer


26/set (sábado)
7ª Bienal - Transmissão e Irradiação
A partir das 11h – Rádio Rasgo e O Jardim, filmes de Lilian Zaremba, artista de Radiovisual
18h – Conversa com Fernando Bakos - artista multimídia e professor da ESPM e Roger Lerina - jornalista cultural
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas pedagógicas da exposição Projetáveis, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo


27/set (domingo)
7ª Bienal - Relações e Escalas
A partir das 11h - Fantasia, de Walt Disney
17h – Show François Virot, rock alternativo francês (ingressos a R$ 10,00)
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina de Poesia e Performance, com Telma Scherer - poeta e performer


29/set (terça)
7ª Bienal - Tempo e Circulação
A partir das 11h - Seleção de Filmes do Artista Marcellvs L., artista da mostra Absurdo
18h – Conversa com Victoria Noorthoorn - curadora-geral e das mostras Desenho das Ideias e Ficções do Invisível, Iran do Espirito Santo e Walmor Corrêa - artistas da mostra Desenho das Ideias
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina EX-tensões do corpo, com Carla Borba - artista


30/set (quarta)
7ª Bienal - Transformação e Linguagem
A partir das 11h - O Cão Andaluz, filme de Luis Buñuel e filmes sobre Samuel Beckett, artista da mostra Ficções do Invisível
18h – Conversa com Laura Lima - curadora da mostra Absurdo e Luis Paulo Vasconcellos - ator e diretor teatral
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas pedagógicas da exposição Absurdo, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo


01/out (quinta)
7ª Bienal - Linguagem e Identidade
A partir das 11h – Portuñol, filme de Ivana Vollaro, artista da Radiovisual e CAST/K, filme de Fabio Kacero, artista da mostra Ficções do Invisível
18h – Conversa com Lenora de Barros - cocuradora da Radiovisual e Cláudio Moreno - professor em Língua Portuguesa
*14h às 17h - Programa de Artistas em Residência - Oficina de canções, com Rosário Bléfari - cantora, compositora, atriz, escritora e artista do Programa de Residências


02/10 (sexta)
7ª Bienal - Tempo e Circulação
A partir das 11h – Seleção de Filmes sobre John Cage, artista das mostras Ficções do Invisível, Desenho das Ideias e da Radiovisual
18h – Conversa com Maria Helena Bernardes - artista do Projeto Pedagógico - Programa de Residências e Antônio Carlos Borges da Cunha - maestro
*14h às 17h - Projeto Mapas Práticos - Oficina de Performance, com João de Ricardo – performer


03/10 (sábado)
7ª Bienal - Linguagem e Sistemas
15h e 17h – Cildo, documentário de Gustavo Moura (no Cine Santander Cultural, com entrada franca)
18h – Conversa com Gustavo Moura, cineasta e Cildo Meireles - artista da mostra Desenho das Ideias
*14h às 17h - Workshop para professores sobre as fichas pedagógicas da exposição Ficções do Invisível, com Estêvão Haeser - artista plástico e Jorge Bucksdricker - poeta e filósofo

04/10 (domingo)
7ª Bienal - Transformação e Linguagem
A partir das 11h - Verso Inversus, filme de Anna Maria Maiolino, artista das mostras Desenho das Idéias e Ficções do Invisível, e Insolação, filme de Daniela Thomas, artista da mostra Ficções do Invisível
17h - Show Duo Acorda, duo de violino e violão da Noruega (Ingressos a R$ 10,00)
*14h às 17h - Programa de Artistas em Residência - Aulas de ginástica e filosofia política, com Diego Melero - sociólogo e artista do Programa de Residências

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Proa, revista de antropologia e arte da Unicamp



(...) Na busca de um fio condutor, diria que existe um elemento que perpassa todo o meu trabalho enquanto artista plástica: o corpo como receptáculo capaz de condensar marcas vivenciais – sejam elas memórias do nascimento, de desejos, sofrimentos ou outras -, a partir das quais se podem elaborar experiências estéticas.

(...) Existe, do ponto de vista temático, um fio condutor perpassando a maioria de meus trabalhos ao longo destes 14 anos: o corpo-memória e seus vários desdobramentos, sintetizados em 6 fases de minha produção plástica.

(...) A quarta fase, Corpo simbiose – o fogo do laço, desenvolvida no mesmo ano, foi o momento de explorar a fusão dos corpos, construídos a partir de roupas de lã preenchidas e costuradas umas nas outras de forma a compor um conjunto orgânico. O corpo, aqui, voltou a aparecer, porém fragmentado - ora só o torso, ora os membros inferiores.

!! Dudu e Sissi no Jekyll !!

Amici, nesta quinta-feira, 24 de setembro, depois de Bob Wilson no Teatro do Sesi, acontece a Quinta Independente no Dr. Jekyll.

Lá o Dudu vai estar tocando com Músicas Intermináveis para Viagem
e vai rolar o curta metragem Sobre um Dia Qualquer de Leonardo Remor, pelo qual ganhei o Prêmio de Melhor Atriz na Mostra Gaúcha de Curtas no 37o Festival de Cinema de Gramado. O filme levou outros 4 prêmio (montagem, fotografia, arte e direção).

Podemos nos ver lá e acoplar geral!!

Casulos e Homens


domingo, 20 de setembro de 2009

Empacotar

em.pa.co.tar

  1. (transitivo)
    1. reunir em pacotes
    2. enfardar

Hey, Sissi, quero ver os teus gatos





Dani D'Emilia

Lavajato = Mortimer Só = UmbigoGroup

acoplamento severo



Auhhuauhahu
eu costumo me acoplar com os gatos da Sissi, o Frederico e o Lua (Lua é o Zorg), e dançar com eles uhahuahua

mais acoplamentos interespécies





Acoplando, dando a mão, descobrindo no monstro um amigo.
saudades de todos, de abraçar as pernas, as costas, os pés, o mistério, o invisível!

experiência direta

blog dharma/arte
O SIMBOLISMO DA EXPERIÊNCIA
texto: Chögyam Trungpa; fotos: Douglas Dickel

"O tema do simbolismo não interessa apenas a artistas ou a historiadores da arte, e sim a todos que gostariam de compreender e desenvolver a si próprios. O objetivo não é ensinar uma série de truques, mas ajudar-nos a compreender algo sobre nós mesmos, nossa visão da vida e o mundo dos fenômenos em geral. Por sua vez, também poderíamos entender como aplicar essa visão de maneira audiovisual. O simbolismo baseia-se naquilo que experimentamos de maneira pessoal e direta em nossa vida. Toda atividade é simbolismo fundamental. O universo está constantemente tentando chegar até nos para dizer ou ensinar algo, mas nós o rejeitamos o tempo todo."
leia mais

sábado, 19 de setembro de 2009

Uma semana.
5 dias.
Muita gente louca disposta a agir.
Mentes disponíveis.
Corpos de contato e superfície permeável.
Só consigo pensar nas sensações que tive.

As práticas e as conversas não foram algo externo, foram atividades que efetivamente aconteceram internamente.
Os ossos tão comentados não se distinguiam da pele, dos músculos, dos órgãos, dos neurônios que existem ao longo do corpo e não só no cérebro.
Eram corpos pensando.
Mas pensando não cartesianamente, porque corpos não seguem a razão.
Pensamento que se efetivava pela percepção do outro que se torna parte de mim em uma troca de calor e energia impura.
Impureza que não tem origem certa, direção certa, ou fim.
Energia impura e rizomática,
que mesmo depois que acaba permanece.
Toda e qualquer atividade que realizamos não se esgotou em si mesma...
E mesmo com o fim da oficina ainda existe e reverbera...
Em textos como este, que reflete sobre o processo, ou em qualquer ação que possamos realizar daqui por diante.

Houve uma internalização, uma encarnação da energia imperceptível aos olhos, mas que a física, quando está disposta, comprova tranquilamente a existência.
Era energia térmica, mecânica, sonora, óptica... produzida de forma orgânica.
Éramos orgânicos, mas de um corpo sem órgãos que nos permitia infinitude.
O processo não se extinguiu com o fim da oficina.
O abismo ao qual fomos convidados a nos atirar, incerto, impreciso, inatingível e intangível não se encerra porque é parte desse devir que permanece...
e que somos nós e que não somos nós.

Cada um chegou como um mundo que, desde o primeiro momento em que se permitiu acoplar, se tornou diferente de si e do outro. Nos tornamos híbridos e ainda o somos, porque é impossível destilar ou decantar ou filtrar ou peneirar a mudança realizada por caminhos e substâncias tão diversas.

Dentro dessa prática existimos em um universo paralelo onde não somos mais isoláveis, mesmo que empacotados. Sem tato e sem visão, nos abrimos para escutar e sentir o que nos rodeia de uma maneira tão profunda que, quando somos liberados das camadas de papel e fita adesiva, tudo tem mais cor, cheiro, som e imagem. O isolamento é utópico, pois o corpo fica mais desperto se restringido. Ele vibra com mais força, ele corre com mais vontade, ele é vivo com mais intensidade.
Enxergamos sem ver, porque percebemos que somos cegos com os olhos sempre abertos.

Não somos nem um, nem vários.
Somos seres compartilhados, jamais compartimentáveis.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Grand Finale



Hoje, dia 18 de setembro, o dia iniciou como de costume nesta semana, com o celular despertando pontualmente às 6:35 e eu esticando um pouco mais na cama. Missão: estar no ônibus das 7:50 e assim chegar à Usina a tempo. Apesar da previsibilidade do roteiro, cada um desses dias foi bem diferente. À medida que os encontros foram se sucedendo os sentidos foram sendo aguçados. Após um momento de meditação by google, disse: a sala tem mais cor. A cada dia fomos nos permitindo levar pelo improviso, pelo espontâneo, pelo acaso. As propostas foram sendo assimiladas paulatinamente, massagens que começaram no pé, passaram pela pele até chegar ao osso e resultaram em acoplamentos orgânicos. Corpos sem membros, encontros improváveis e lógicas absurdas.
O Grand Finale veio das memórias grafadas em folhas de caderno com canetinhas de cor. Agrupadas tridimensionalmente formaram uma profunda raiz mnemônica. Juntamos nossos anzóis para formar uma rede e ganhamos a rua. Uma rede de acoplamentos sensíveis, móveis. Com ímpeto, mas sem fúria, promovemos um arrastão, utilizando como materiais, além de nós mesmos, jornais, durex, hidrante e canga (senti falta dos balões amarelos).
Obrigado turma.

Andreas Smetana

Acoplamento...







nosso espetáculo

1. O monstro triplo

Um exemplo de que três corpos podem formar um único corpo, e digo "formar" fazendo de conta de que tudo não é um grande e único corpo. Arranjamos jeitos de enfrentar as limitações que tivemos ao nos tornarmos um. A primeira grande descoberta foi o movimento dos quadris. Rebolamos no sentido horário e no sentido anti-horário, além de fazermos um 8, que foi mais difícil pois não sabíamos o 8 de quem. A segunda descoberta foi que com pulinhos repetidos nos movimentávamos, no sentido de caminhar, facilmente. Só que cansa, e cansamos. Depois, quisemos aterrorizar os automóveis. Nesse trajeto, descobrimos a caminhada lateral que funcionava em ritmo de tango. Passamos a cantar o mais famoso tango aquele para dar o ritmo das passadas. Assim, fomos conduzidos pela faixa de segurança, eu, Angela e Dudu, pela Silvana. E os motoristas pararam, sem buzinar. Atravessamos a rua com o objetivo de escalarmos o Everest, que era um morrinho coberto por gramíneas. Antes de chegar até ele, uma árvore com galhos meio baixos obrigou-nos a dar uma abaixadinha. Primeiro, achamos que não iríamos conseguir subir o Everest, mas nós queríamos, então conseguimos, sem cair. Foi então que vimos, por baixo de algumas árvores da praça, o João Veronete, e a Angela disse que queria ver os veronetes. Outra parte difícil, a descida do morrinho, até porque as gramíneas estavam molhadas da chuva. Com uma ajuda do acomplamento das costas da Silvana, descemos sem maiores problemas, e de novo os motoristas pararam sem protestar. Se fizeram caras feias eu não sei - fizeram, Silvana? A essa altura, já estávamos exaustos de caminhar e o suor corria em nossos rostos, sem contar embaixo das nossas roupas e onde nossos corpos se tocavam, nos pontos de acoplamento. Jornal e corpo humano e movimentos difíceis são três coisas que esquentam pacas. Não víamos a hora de chegarmos na cancha poliesportiva e nos deixarmos cair no Ninho. Foi o que fizemos.

Algumas reflexões. A "natureza" sempre dá um jeito. Como a somos, ela deu / nós demos uma série de jeitos. Um exemplo também da solidariedade dos seres vivos. Da potência de acoplamentos como forma de ampliar possibilidades. Não sei se essa nova campanha da faixa de pedestres vai dar certo, mas é triste saber que os motoristas só não protestaram porque viram que era algo especial, tipo um "trabalho de colégio". Por mais que (um)a arte (contemporânea) não seja compreendida, pelo menos é categorizada como algo a que se costuma, na sociedade, dar-se alguma importância, desde que não se precise pagar por "essa coisa que até meu filho faria". "Podia ser diferente", escreveram no caderno de visitas quando fiz uma exposição de fotos, em 2006, ali no Arcos do Gasômetro. Outra coisa que me vem à mente é que fazemos sacrifícios por coisas que amamos, como esses exercícios artísticos desta semana. O suor, a dor e o barro nos nossos calçados foram encarados com alegria. Em outra ocasião, talvez ficássemos ansiosos por ligar um ar condicionado ou talvez pensássemos duas vezes antes de "pagar um mico". Acho que essa é uma mudança que o eu-quero-que-seja-sempre-assim deve promover, a de não se reprimir com etiquetas e convenções de como se portar. Tem MUITA coisa que dá para fazer (e não fazemos) antes de realmente desrespeitar as outras pessoas. Movimentar-se no mundo sabendo que ele nos movimentos, nadando no ar, que não tem nada de vazio. Não precisamos utilizar somente os movimentos que estão no catálogo da Glorinha Kalil, até porque senão algumas partes do nosso corpo (a.k.a. mente) atrofiam, tensionam.


2. O cego e a caminhada acoplada ao som ininterrupto do OM

Deus, foi a minha vez de me sentir cuidado. Me vendei porque o monstro triplo enxergava, e eu precisava sentir como foi esse aspecto da experiência dos monstros cegos. Da saída do Ninho, então, até o QG, foi um lapso temporal extraordinário. Meditação caminhando & não enxergando & com nossos corpos vibrando em uníssono, às vezes com harmonias vocais em clusters, como a peça Lux aeterna, do compositor húngaro György Ligeti, que foi trilha da cena do monolito negro, em 2001 uma odisseia no espaço, do Kubrick. Cego, facilitava-me o reconhecimento das vozes dos outros co-autores, e sorrisos se formavam quando eu me dava conta, essa é a voz do Rodrigo etc. Improviso teatral, performático & musical &tc. O que não devia ser alguém presenciar ESTA parte de fora?? Vídeos, por favor! Fazendo parte desse novo e maior multi-ser, apareceram relâmpagos de conflito entre estar ali apenas sentindo e existindo e vivendo e o pensamento racional de que os outros, uma maioria esmagadora perto de nós, estava em experiências opostas, correndo atrás (dentro) da máquina, literalmente dentro de máquinas (de aço), com a pressa que nos cria a necessidade de produzirmos pedaços retangulares de papel que nos garantem sobrevivência e/ou conforto. E uma maioria esmagadora dentro dessa maioria esmagadora sequer um dia vai se interessar por esse tipo de experiência, sequer vai chegar a ser levado pelo Acaso até a possibilidade desse tipo de experiência, sequer teve e tem condições de desejar esse tipo de experiência. Isso me perturbou, em alguns lampejos, felizmente rápidos e em níveis baixos de importância dentro da minha percepção geral.

É interessante como temos um desequilíbrio, no mau... sentido, dos nossos sentidos. Ou seja, a supervalorização da visão. De modo que, com a visão restringida, a percepção geral se altera muito. Parece que não estamos registrando o que nos está acontecendo, afinal, as coisas parecem só acontecer de fato conosco se as fotografamos... Esses dias fui à casa de um amigo, e ele e a namorada dele passaram horas mostrando fotos e vídeos de uma viagem turística internacional que fizeram. Fiquei deprimido ao presenciar o tamanho daquele apego. Foi também pela restrição da visão que o Fabrizio conseguiu encontrar o caminho de volta no terraço do Gasômetro, coisa que espantou As Colegiais, que nunca devem ter brincado de cabra-cega. Os outros sentidos, e a intuição, vêm mais à tona. E essa cegueira costuma nos deixar menos temerosos dos nossos superegos, tanto que o ritual aclamado pelas pessoas são as festas noturnas, em bares escuros. A primeira coisa que salta ao cego são os sons. Na cidade, acostumamo-nos a ignorar sons que nos são já extremamente familiares, como os dos passarinhos, os dos carros e os das obras, que, acredito, são os três sons predominantes na cidade em dia ÚTIL. Mas é curioso porque, quando voltamos o foco para a audição completa, isso pode tanto ser motivo de incômodo, afinal, são muitos ruídos, como pode ser motivo de transcendência, de meditação. Inclusive existe música feita com esses sons, como o industrial, a música concreta, a eletroacústica. Existe também música que é ruído puro e constante, o chamado harsh noise. Enfim, quando percebi esses sons, e isso ocorre com cada vez mais frequência para mim, desde que comecei a meditar, percebi-os num grande estéreo, cada um vindo de onde de fato vêm. Por fim, foi marcante saber que eu era a parte frontal do multi-ser quando ELE subiu as escadas, ao que o João disse "O cego nos conduz" (ou "nos orienta"?). Puta merda, que lindo isso, que simbólico. A chegada na sala foi claramente melancólica, pois representava o fim da convivência diária, que, por tão densa, parecia - e foi - infinita. Que venham os projetos-galhos desse grande tronco de árvore, os aleatórios acoplamentos extra-workshop, além da continuidade desse próprio trabalho como feitura de um registro que se tornará uma nova obra, nascida da obra já pronta desta semana, mas independente dela. Escrevi demais.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

jornal, linha, baba...



Por um estado de arte
Suely Rolnik


São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994. (O relato que se segue descreve a experiência que fiz da obra de Lygia Clark Baba Antropofágica, de 1973, no contexto de um grupo de trabalho que visava inicialmente a preparação da retrospectiva de sua obra na 22a Bienal Internacional de São Paulo.) Deitada no chão, olhos vendados, alvoroço de corpos anônimos agitando-se em torno de mim; não sei o que pode vir a se passar. Perda total de referências, apreensão, desassossego. Estou entregue. Pedaços de corpos sem imagem destacam-se, ganham autonomia e começam a agir sobre mim: bocas anônimas abrigam carretéis de máquina de costura, cujas linhas lambuzadas de saliva são ruidosamente desenroladas por mãos igualmente anônimas, para em seguida depositá-las sobre meu corpo. Coberta pouco a pouco dos pés à cabeça por um emaranhado de linhas, composição improvisada de bocas e mãos que me cercam, vou perdendo o medo de diluir a imagem de meu corpo, diluir meu rosto, minha forma, me diluir: começo a ser este emaranhado-baba. O som dos carretéis girando nas bocas parou. As mãos agora se embrenham nesta espécie de molde úmido e quente que me envolve para retirá-lo de mim; umas, mais nervosas, arrancam tufos; outras erguem fios com a ponta dos dedos como se temessem esgarçá-los - e assim vai indo até que nada mais reste. Meus olhos são desvendados. Volto ao mundo visível. No fluxo do emaranhado-baba plasmou-se um novo corpo, um novo rosto, um novo eu.

Estou atordoada. O que é isto que me aconteceu? Sinto-me convocada a enfrentar o enigma.



(...) Chama minha atenção a repetição insistente de algumas palavras e expressões, verdadeiros ritornelos. Decido então tomá-los como linhas de minha investigação. Começo por um deles que menciona o corpo, já que foi aí que algo de inquietante comigo se passou: "memória do corpo". De que corpo e de que memória Lygia estaria falando?

Apelo para a memória das sensações que vivi na Baba Antropofágica. Descubro que o corpo em que fui lançada e do qual Lygia tanto fala não é nem o corpo orgânico, nem a imagem do corpo, nem o invólucro de uma suposta interioridade imaginária, que constituiria a unidade de meu eu. E mais ainda, são exatamente estes corpos que foram se desmanchando em mim, diluindo-se na mistura das babas. O corpo vivido nesta experiência está para além deles todos, embora paradoxalmente os inclua: é o corpo do emaranhado-fluxos/baba onde me desfiz e me refiz.

Penso no "corpo sem órgãos", expressão de Antonin Artaud retomada e expandida por Gilles Deleuze e Félix Guattari, no mesmo momento em que Lygia fazia sua Baba Antropofágica. O corpo sem órgãos é esta matéria aformal de fluxos/babas, que experimentei num plano totalmente distinto daquele onde se delineia minha forma, tanto objetiva quanto subjetiva. Eu disse matéria "aformal" e não "informe", porque o que vivi ali não foi simplesmente uma ausência ou indefinição de minha forma, mas sim um além da forma. Um plano habitado por uma fervilhante agitação de fluxos de saliva, de linhas, de bocas, de mãos, em movimentos de atração e repulsa, produzindo constelações - uma pletora de vida onde um feixe desconhecido de sensações foi germinando, impossível de ser expresso na forma em que eu me reconhecia. Foi quando me estranhei: algo em mim deixara de fazer sentido. Só fui me apaziguar quando senti ganhando consistência um novo corpo, um novo eu, encarnação daquelas sensações produzidas pela mistura dos fluxos/baba.

Vislumbro então que o corpo sem órgãos dos fluxos-baba é uma espécie de manancial de mundos (...). É um fora de mim, mas que curiosamente me habita e ainda por cima me faz diferir de mim mesma - como diz Lygia: "o dentro é o fora". Este paradoxo me leva a uma nova pergunta: se não é dentro de mim, onde é que tal fora me habita?

Lembro-me de um comentário de Lygia sobre uma obra do período que estou investigando: "O homem quando põe essas máscaras vira um bicho autêntico, pois a máscara é um apêndice dele". Encontro uma pista: o fora é o corpo sem órgãos do autêntico bicho - um além de mim enquanto forma dada, com seu contorno, seu dentro, sua estrutura, sua psicologia. O fora é o vivo não-humano que me habita: matéria feita de babas misturando-se ao infinito, produzindo dobras e mais dobras, cujos contornos circunscrevem dentros. E os dentros vão sendo deglutidos no emaranhado das babas, bicho antropofágico que os devora tornando-os contingentes e finitos. Cada dentro é uma dobra do fora, uma dobra do autêntico bicho.

(...) É deste fora que foi se produzindo um novo dentro de mim. E dá para imaginar que se repetisse esta experiência em outros contextos, constituídos por outros fluxos, outras misturas, outros dentros de mim iriam se produzir.

Se este é o corpo que habitei na Baba, em que consiste a memória deste corpo? Que espécie de memória tal experiência ativou em mim?

É óbvio que o que se ativou não foi uma memória cronológica, depósito/arquivo de uma sequência biográfica que minha consciência teria acessado; tampouco um esconderijo de representações reprimidas deste passado.

De novo é Lygia quem responde. O que a Baba ativou foi a memória do "arcaico", mais um de seus ritornelos: o tal bicho - o não-humano no homem e seus afetos - paradoxalmente sempre contemporâneo. Memória do corpo dos emaranhados-baba, campo de experimentação de uma cronogênese: engendramento de linhas de tempo espacializando-se em novos mundos. Memória prospectiva, acessada por reativação (do bicho) e não por regressão (ao passado humano e seus conteudos recalcados).

Aí uma outra pergunta vem impor-se a mim, a última que tenho que enfrentar para apreender minimamente o que me aconteceu naquele domingo: o que Lygia pretende inventando objetos cuja visada é acessar a memória do corpo?

Se a memória a ser acessada é a cronogenética, a função dos objetos de Lygia não é a sensibilização ou a liberação catártica do corpo próprio como fonte de prazer, nem a expressão ou a constituição de uma imagem do corpo como fonte de unidade psíquica, nem o resgate das tais representações reprimidas que se encontrariam num arquivo secreto. Ao contrário, a função destes objetos é promover a abertura na subjetividade para um além do humano: o autêntico bicho (o vivo).

É a própria Lygia quem afirma que o ritual que convoca esta memória não visa "buscar uma forma a ser encontrada seja no passado, seja no futuro, mas a vivência experimental do particípio presente da evolução incessante das formas. Ritual que servirá de ponte para atravessar da terra pseudo-firme de sua alienação para as águas instáveis e tão inesgotáveis de sua liberdade de ação e do precário como novo conceito de existência". Ritual que devolve ao "pulmão cósmico" (outro ritornelo de Lygia) a potência de respirar os ares do fora.

Lygia não quer apenas abrir o acesso ao informe (o negativo da forma, sua ausência), nem à capacidade de mudar de forma (metamorfose), propostas bastante comuns na geração de artistas à qual pertence, geralmente tomadas como um valor em si. O que ela quer é criar condições para conquistar ou reconquistar na subjetividade um certo estado no qual seja possível suportar a contingência das formas, desgrudar de um dentro absolutizado vivido como identidade, navegar nas águas instáveis do corpo aformal e adquirir a liberdade de fazer outras dobras, toda vez que um novo feixe de sensações no bicho assim o exigir. É como resposta a esta exigência que mudar de forma ganha sentido e valor, impondo-se como necessário para a aventura vital.

Lygia chamou isto de "atingir o singular estado de arte sem arte": último de seus ritornelos que evocarei, pois ele define a experiência que me interessa problematizar aqui. Uma pergunta logo se impõe: porque "sem arte"? Este é um detalhe essencial: para Lygia experimentar o estado de arte - corporificar um novo feixe de sensações, singular por definição - não se dá somente na criação de um assim chamado "objeto de arte", mas também na criação da existência objetiva e/ou subjetiva. O que Lygia quer é resgatar a vida em sua potência criadora, seja qual for o terreno onde se exerça tal potência.

Atingir o estado de arte na subjetividade do próprio artista não tem nada de novo, pois é de dentro deste estado que o artista cria. Lygia sempre viveu verdadeiras convulsões durante a gestação de cada fase de sua obra. Suas turbulências não eram um mero detalhe biográfico pitoresco, peculiaridade de sua "estrutura psicológica", mas sim parte de seu processo de criação, no qual ganhava corpo uma proposta ao mesmo tempo artística e existencial.

Atingi-lo na obra, sacudindo sua reificação no objeto - reificação que encontra poderosa sustentação no mercado de arte - é um passo sem dúvida importante, mas se fosse só esta a questão de Lygia não constituiria novidade alguma em sua época.

Penso que a principal visada de Lygia está na subjetividade do espectador: é aí que ela quis atingir o que chamou de estado de arte - sacudir a posição de espectador, desreificá-la radicalmente. Isto vai muito além da simples proposta de participação, comum em sua geração, redutível a um democratismo politicamente correto.

Aqui encontra-se a originalidade e a força maior da obra de Lygia. É isto que a fez deslocar-se paulatinamente do público de museus e galerias, por demais reificado em sua identidade de espectador, para ir buscar seus "espectadores" entre jovens estudantes da Sorbonne pós-68, depois entre transeuntes anônimos nas ruas de Paris e, no final, um a um, de preferência borderlines, no contexto daquilo que ela própria chamou de "consultório experimental", instalado em seu apartamento na rua Prado Junior de Copacabana. O acesso do espectador aos objetos passa a depender de sua entrega a uma iniciação: a abertura de sua subjetividade para o estado de arte. (...)

O que Lygia busca provocar no espectador pode confundir-se com propostas contraculturais que lhe são contemporâneas: liberar o corpo; desenvolver a criatividade - seja usando os objetos ludicamente como num playground, seja encarnando o clichê do artista que haveria em cada um, Belas (Artes) Adormecidas que se pode e deve despertar. Não é nada disso o que Lygia busca: de espectador em espectador o que ela pretende é que se possa fazer da existência uma obra de arte.

É verdade que como proposta estética isto não tem nada de novo; poder-se-ia dizer que ela acompanha a arte moderna desde o início. Mas Lygia vai mais longe: ela quer é a desreificação da existência individual e coletiva, a descoagulação das formas, a conquista de uma fluidez nos processos de subjetivação - um plasmar-se, como ela diz, deixar-se descosturar e costurar pelo fervilhar do trabalho subterrâneo das forças/fluxos de nosso bicho, germinação que se opera em silêncio e que pede um corpo que venha encarná-la, um corpo de pensamento, de arte, de existência etc. Lygia nos propõe um modo antropofágico de subjetivação: o bicho devorando o homem, outro homem nascendo desta devoração e assim ao infinito. (...)

CD híbrido, bissociação & fluxo



Está sendo relançado Ladies and gentlemen we are floating on space, o melhor disco da carreira do Spiritualized, banda de space rock de Jason Spaceman, que era da falecida banda Spacemen 3.


Uma forma (um pouco mais simplificada) de se visualizar uma hibridização é pelo conceito de BISSOCIAÇÃO, de Arthur Koestler, que fala do encontro de duas "matrizes" de ideias: a matriz A e a matriz B.



Definição. A bissociação é a técnica mentalsomática associativa decorrente da justaposição de uma idéia ou constructo básico com vários outros de diferentes campos não relacionados para produzir descobertas, inovações, invenções e captação de neoidéias ou potencialização da criatividade.

Sinonímia: 1. Técnica associativa do pareamento conceitual. 2. Associação biconceitual. 3. Justaposição aleatória. 4. Correlação inteligente. 5. Liberdade pensênica. 6. Combinatória lexical.

Antonímia: 1. Repetição. 2. Monotonia. 3. Prisão pensênica.

Etimologística. O termo bissociação foi proposto por Arthur Koestler no livro The act of creation.

Fonte: Conscienciopédia


Mihály Csíkszentmihály, professor de psicologia, fez estudos sobre felicidade e criatividade e arquitetou a noção de fluxo, que vai ao encontro da ideia de autotelismo:






Estas duas pesquisas, sobre Koestler e Miháli, e muitas outras que eu fiz sobre arte vocês podem ver no blog do evento híbrido Teratonia, do qual fiz/faço parte com o meu projeto não-só-musical input_output.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

experiência monstruosa: relatório de observador



"Isso é um filme de terror?", perguntou uma mulher, no elevador com um ou dois monstros, não lembro. E o George Lucas diz que fez a primeira trilogia Star Wars com monstros de verdade só porque não havia computador para executar algo mais aproximado do que ele tinha em mente. Eu sou um amante do inusitado, daquilo que surpreende, que remexe as sinapses neuronais. Então eu me maravilhei vendo monstros de jornal caminhando feito astronautas...



... mudos (nem todos, mas não combinamos nada antes), feito seres sem voz e aprendendo a se locomover. E esses seres circulando "dentro da vida". Pegando elevador. Esperando ônibus. Trombando com cegos. Com cegos! Dois pares deles. Os monstros de jornal eram humanos renascendo transfigurados, aprendendo quase do zero a se relacionar com o mundo, com novas leis de percepção. Percebi, neste exato momento em que escrevo, que eu estava afeiçoado por aquelas criaturas, porque eu estava cuidando delas. Registrando seus primeiros passos como um pai coruja e a câmera digital da família. Eu já havia me afeiçoado aos colegas, OK, mas aqueles não eram mais os colegas, ou talvez os colegas embaralhados, nos dois sentidos: como se fosse o jogo de mexer os copos não-translúcidos e adivinhar qual deles contém cada coisa, e embaralhados no sentir. Embaralhados para o bem, como uma criança maravilhada ao descobrir o mundo, a experiência primeva necessária ao adulto, como defendeu Aldous Huxley em As portas da percepção. Eu, o papai, era melhor para mim às vezes cuidar, às vezes deixar o monstro seguir sozinho. Engraçada essa comparação. E daqui a pouco carregarei um álbum do Picasa com as imagens de toda a minha observação. A oficina toda está sendo muito importante para mim. Estou muito cansado, quase morto desde o acoplamento de duplas de anteontem, mas das 9h às 13h eu não lembro de cansaço ou dor nos músculos e perco a (fabricada?) noção de tempo. Por quê? Primeiro: autotelismo. (Segundo o Dicionário Aurélio, autotélico diz-se do que não tem finalidade ou sentido além ou fora de si. O E-Dicionário de Termos Literários chama autotélico aquilo que tem sentido apenas para si próprio, como no caso de um autor que supostamente escreve só para si mesmo, convencido de que a literatura é apenas entendível por quem a produziu. Aplica-se ainda à obra de arte que nega qualquer pragmatismo ou referência ao mundo exterior, como acontece na estética da arte pela arte. O adjetivo também pode ser antônimo de "didático".) Estou fazendo algo de gosto, e muito. Logo, estou presente no Agora, não estou pensando no passado nem no futuro. A semana está sendo enorme, por causa dessas manhãs atemporais e da densidade de experiências absorvidas pela carne humana. A de hoje foi mais empolgante que a de ontem, porque teve um fio condutor, não foi absolutamente qualquer coisa. Ontem em alguns momentos eu cheguei a me sentir digestivamente mal pela falta de rumo, porque excesso de caos também é ruim. Sigo os budistas na busca do caminho do meio, o meio entre a canção e o experimentalismo, entre o avant-garde e o pop, entre o caos e o minimalismo. Monstros de jornal não têm nenhum propósito aparentemente, mas o propósito são eles próprios, é o inesperado para aquele que está dentro da armadura jornalística e para aqueles que se deparam com a criatura. Ninguém sabe o que fazer e o que pensar, e isso é vida pura. Ou melhor, vida com suas puras impurezas, sem as purezas impuras das máquinas invisíveis, sem as automatizações da percepção, sem um sistema de acionamento de categorias conhecidas. Não fui empacotado, enmonstrado, logo, tive inveja, apesar de ao mesmo ter ficado satisfeito com o acompanhamento, a observação, a função de registro e de observação. Tomara que amanhã eu possa renascer, hehe. Uma coisa que eu quero salientar é a importância de ações como essa. A importância para o mundo. Tem gente que sonha em mudar o mundo e tenta fazê-lo diretamente, o que é impossível. É impossível com um querer, com um planejamento. As dimensões do planeta desanimam, o sistema esmaga. A única forma de mudar o mundo é mudar as pessoas. Não adianta querer mudar uma pessoa. Uma pessoa só muda se ela quer, da mesma forma que ela só pode aprender se quiser, ninguém a ensina nada. Ela se deixa aprender. Mas sem que um outro dite-lhe leis. A única forma de mudar as pessoas é começar mudando a si mesmo. Tornando-nos artistas da vida, injetadores de criatividade, catalisadores de "estética" (falando baixinho com a mão na frente da boca, hehe), plantamos mudança nas pessoas. Jogamos os tais anzóis. (Ou seriam elas que fisgam o peixe que lhes oferecemos?) O inusitado provoca movimento interno, desequilíbrio. "Em física, equilíbrio é morte", disse o físico Thomas Kuhn. Esse movimento, como um bater de asas de borboleta, da Teoria do Caos, pode formar uma onda gigante no outro extremo do planeta, se é que me entende. Um "sim" detona uma onda de "sins". "Dizer sim ao momento é dizer sim a toda a existência", segundo um diálogo do filme aquarelado Waking Life, do diretor Richard Linklater. Enfim, acredito em ações como essa, como aquelas que chamavam de flashmobs. Deveria haver mais disso. Principalmente em Porto Alegre, muito inerte. Mais uma coisa: uma relação que se pode fazer é que o jornalismo nos sufoca. Uma ideia que ainda vou fazer é tirar foto de uma banca de revistas e depois me fotografar (ou filmar) com essa foto na mão, em frente à mesma banca, com o mesmo enquadramento, colocando fogo na foto. "Prefira as eternidades às atualidades", escreveu Henry Thoureau. No final, os colegas renasceram. Não são mais os mesmos.





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