sábado, 21 de abril de 2012

performance modela vida (performance designs life)




documentação fotográfica da aula-performance
Bispo do Rosário
um trajeto que encarnou a complexidade do sagrado, pondo em conexão a fúria monetária das neo-igrejas show com o sagrado (sem órgãos) do artista Bispo do Rosário.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Cuide de você!

O e-mail que a Sophie Calle recebeu e que deu origem ao trabalho na postagem anterior:


"Sophie

Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.


Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.


Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você.


Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”. E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar.


Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.


Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.


Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.


Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.


Cuide de você."

sophie calle lebrada por jéssica lusia (take care of yourself)



vida pessoal < - > obra aberta <-> o outro

a jéssica nos toruxe sophie calle. um presente, um processo de artevida.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Abismo

(pós-Bispo)

Vagueio, vagueio-me para reabitar-me, me deixo em cacos para rasgar e inundar. Até onde meus pensamentos aguentam e depois desse limite. OS PENSAMENTOS SOLÚVEIS DESEMBOCAM-NA CORRENTE SANGUÍNEA E FAZEM PULSAR O CORPO INTEIRO. TONTURA E FALTA DE AR.
Magnético.
Olhos imãs capturando tudo pra si, deixando vir os arrepios porque é quando os poros se abrem pra imergir e emergir. tudo pulsa.
as mãos tremulas pinçam letras.
os pés de uma leveza áspera me caminham.
AQUI, no passado/presente/futuro.
AQUI, com a visão escancarada.
acordando sem ter dormido.
luzfria|espelhod’água.
cubro meus sonhos com linha de costura azul.
tudo tem um lugar, ou vários lugares;
uma identidade, ou tantas outras inumeráveis.
cicatriz escancarada ou silenciosa. A mesma cicatriz de ruído e silêncio.
A beira de.
Prestes a.
Transbordo então.
os pés balançam procurando o chão.
não encontram, porque nunca é o fim.
sem tocar o chão, até não encontrar.
ABISMO-ME.

Hannah Höch

Hannah Höch, Das schöne Mädchen (The Beautiful Girl, 1919-1920)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Três tempos. A poesia de Matos, a canção de Caetano e o hoje. Me sinto forasteiro sob a bandeira que nasci. O Brasil ainda arrasta cadáveres pesadíssimos de instituições feitas por irmãos e cidadãos que emperram a vida e sugam outros irmãos e cidadãos. Instituições públicas interesses privados. É a máquina mercante a máquina morte que só faz estratificar mais, deixar as coisas como estão, parar, morrer, gelar. Máquina de colarinho branco, de carimbos e papéis. De escusas reuniões em escusos gabinetes. de cabides de emprego. de colegas cegos às demandas do OUTRO> Triste Brasil - Ó quão dessemelhante.

Triste Bahia
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
...
Gregório de Matos