terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Aqui tem outro Link interessante sobre autopoiese e acoplamentos estruturais

O acoplamento estrutural
Maturana e Varela observam que o sistema vivo e o meio em que ele vive se modificam de forma congruente. Na sua comparação, o pé está sempre se ajustando ao sapato e vice-versa. É uma boa maneira de dizer que o meio produz mudanças na estrutura dos sistemas, que por sua vez agem sobre ele, alterando-o, numa relação circular. A esse fenômeno, eles deram o nome de acoplamento estrutural. Quando um organismo influencia outro, este replica influindo sobre o primeiro. Ou seja, desenvolve uma conduta compensatória. O primeiro organismo, por sua vez, dá a tréplica, voltando a influenciar o segundo, que por seu turno retruca — e assim por diante, enquanto os dois continuarem em acoplamento.

Mesmo sabendo que cada sistema vivo é determinado a partir de sua estrutura interna, é importante entender que quando um sistema está em acoplamento com outro, num dado momento dessa inter-relação a conduta de um é sempre fonte de respostas compensatórias por parte do outro. Trata-se, pois, de eventos transacionais e recorrentes. Sempre que um sistema influencia outro, este passa por uma mudança de estrutura, por uma deformação. Ao replicar, o influenciado dá ao primeiro uma interpretação de como percebeu essa deformação. Estabelece-se portanto um diálogo. Por outras palavras, forma-se um contexto consensual, no qual os organismos acoplados interagem. Esse interagir é um domínio lingüístico.

Posto de outra forma, nesse âmbito transacional o comportamento de cada organismo corresponde a uma descrição do comportamento do outro: cada um "conta" ao outro como recebeu e interpretou a sua ação. É por isso que se pode dizer que não há competição entre os sistemas naturais. O que existe é cooperação. No entanto, quando à natureza se junta a cultura — como no caso dos seres humanos —, as coisas mudam.

Reafirmo que não existe competição (no sentido predatório do termo) entre os seres vivos não-humanos. Quando o homem chama determinados animais de predadores está antropomorfizando-os, ou seja, projetando neles uma condição que lhe é peculiar. Como não competem entre si, os sistema vivos não-humanos não "ditam" uns aos outros normas de conduta. Mantidas as condições naturais, entre eles não há comandos autoritários nem obediência irrestrita. Os seres vivos são sistemas autônomos, que determinam o seu comportamento a partir de seus próprios referenciais, isto é, a partir de como interpretam as influências que recebem do meio. Se tal não acontecesse, seriam sistemas sujeitados, obedientes a determinações vindas de fora.

No caso das sociedades humanas, em que as condições não são apenas as da natureza, é isso que o marketing e outros meios de condicionamento de massa tentam (e em boa parte dos casos conseguem) fazer com populações inteiras. É, portanto, possível a produção em grande escala de indivíduos sujeitados, embora para isso os estímulos condicionadores precisem ser amplos e ininterruptos.

É o que o psicanalista Félix Guattari chama de produção de subjetividade. Com essa noção ele introduz a idéia de uma subjetividade industrial, fabricada, moldada pelo capitalismo. Trata-se da introdução de gigantescos sistemas de formatação e condicionamento, por meio dos quais o capital (hoje em sua fase de triunfalismo) constrói e mantém o seu imenso mercado de poder. É disso mesmo que se trata: transformar em sujeitado um sujeito natural. Ou seja, implantar e levar adiante a violência sobre a característica mais básica dos sistemas vivos — a autopoiese.

A noção de que os sistemas são determinados por sua estrutura é de fundamental importância para muitas áreas da atividade humana. Na psicoterapia, por exemplo, a transferência e a contratransferência podem ser tomadas como manifestações de acoplamento estrutural, no qual as modificações experimentadas pelo cliente são determinadas por sua estrutura. Não podem, portanto, ser vistas como causadas ou produzidas pelo terapeuta. Por isso, é importante ter sempre em mente que o domínio consensual resultante do acoplamento de sistemas autopoiéticos é um contexto lingüístico — mas não no sentido de mera transmissão de informações de parte a parte.
Fonte:CLIQUE AQUI para o texto todo

AUTOPOIESE, CULTURA E SOCIEDADE

Humberto Mariotti *

Um comentário:

  1. Essas leituras de tarô estão muito auspiciosas. Vou fazer uma pergunta e clicar em uma dessas cadeias de imagens, para ter um conselho do oráculo híbrido ou heterogêneo.

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